no ano em que o meu pai morreu
morri também eu
primeiro o corpo rec
usou-se

descia estradas em ponto morto
o alcatrão como mortalha a ferver
de boca em boca
rezava por um acto de deus
por uma sombra cilindro sem condutor
que o incluísse na paisagem em rolo
comia quilómetros nuvens de fumo olhares ínvios
as palavra de ordem nas paredes cegas
eclipses de espelhos
os excrementos dos cães com donos pela trela
os sacos de compras carregados de mulheres
os sapatos dos pobres e montras de armaduras
abocanhava a descida áspera de olhos fechados
à espera
os degraus de calcário branco e negro
apedrejando-lhe os dentes
empalado por mil corri
mãos
a língua enrolada no céu da boca
nuvem de carne descar
nada
à espera
do primeiro choro