ainda sinto os cabelos na cara
asas pétalas pálpebras pó
deixar correr o fio de voz
a correr

arrastado gosto este de trazer quilos e quilos de letras de chumbo agarrados aos dedos, daquelas que formam palavras incompreensíveis e que por isso mesmo trazem agarradas a si mais palavras que não se compreendem. tenho de lamber os dedos e regurgitar estas coisas. deixar um rasto lustroso no ecrã. queria tomar banho mas receio afogar-me.

ouço
o bater dos meus braços estéreis de voos
já vou!

di gestão
"Figura 6. A não-concavidade permite a existência de múltiplos pontos de coerência diferentes"

ama

clique

pegas em mim
outra vez
amas
sas-me
mas antes
se
paras-me
por cores
verme
lho
azul
ama
relo
ama
relo
azul
verme
lho
por cores
se
paras-me
mas antes
amas
sas-me
outra vez

mar
entre mim e m i m
espuma ou esponja
enquanto amorteço

rem
entre mim e mim
uma pálpebra corre
enquanto me opero

lado b
entre mim e mim, uma película autocolante
dupla face
talvez por isso não pertença





[foto: homem aranha]

firme
sentada à beira da cadeira, com as costas direitas como deve de ser.
o meu corpo não ocupa a cadeira, simplesmente lhe toca porque tem de ser.
sentada à beira. sem cair. como deve de ser.
não cruzo as pernas. não encolho os ombros. não estalo os dedos.
se respiro ninguém nota. se sopro ninguém sente.
se baloiço ninguém vê.

virei-me para a parede. alisei pacientemente a prata com o polegar. quando estava bem lisa, praticamente nova, dobrei-a em três. dobrei-a mais uma vez, ao meio. e novamente ao meio, no sentido contrário. senti o quadrado transformar-se em cubo. mágico.

um de maio